O Distúrbio Alimentar Seletivo é uma condição complexa e muitas vezes mal compreendida. Muitos pais desconsideram os hábitos alimentares de seus filhos, acreditando que eles são apenas “comedores exigentes”, mas entender a distinção entre uma fase e um transtorno pode ser crucial para a saúde e o bem-estar da criança.
O que é o Distúrbio Alimentar Seletivo?
O Distúrbio Alimentar Seletivo, não se trata apenas de uma criança se recusar a comer brócolis ou pular a noite do espaguete. É um transtorno alimentar completo, caracterizado por uma recusa persistente em comer alimentos específicos ou uma recusa em comer qualquer tipo de alimento, resultando em deficiência nutricional significativa e interferindo no crescimento e desenvolvimento normal da criança.
Distúrbio Alimentar Seletivo vs. Seletividade infantil: Identificando as Diferenças
Todas as crianças podem ser um pouco exigentes, mas há uma grande diferença entre ser exigente e ter Distúrbio Alimentar Seletivo. E se você quiser saber mais sobre a seletividade infantil eu escrevi um artigo sobre isso, é só clicar aqui!
Duração e Intensidade: Ser seletivo na hora de comer ou recusar alguns tipos de alimentos é uma fase pela qual a maioria das crianças passa, especialmente entre os 2 e 6 anos de idade. No entanto, o Distúrbio Alimentar Seletivo persiste além desses anos, frequentemente se tornando mais intenso com o tempo.
Impacto Nutricional: Embora crianças seletivas possam rejeitar um ou dois tipos de alimentos, eles normalmente conseguem uma dieta equilibrada a partir de outras fontes. Crianças com Distúrbio Alimentar Seletivo podem restringir grupos alimentares inteiros, levando a deficiências nutricionais.
Resposta Emocional: Uma criança que é seletiva na hora de comer pode simplesmente não gostar de couves de Bruxelas, mas uma criança com Distúrbio Alimentar Seletivo pode experimentar ansiedade ou medo extremo à vista ou sugestão de certos alimentos.
Sintomas do Distúrbio Alimentar Seletivo
Agora que você já entendeu um pouco mais sobre as diferenças entre o Distúrbio Alimentar Seletivo e a recusa alimentar eu vou te falar um pouco mais sobre os sintomas do Distúrbio Alimentar Seletivo, pois isso é essencial para conseguir fazer um diagnóstico precoce e intervenção adequada. Os sintomas podem variar em gravidade e natureza, mas geralmente incluem os seguintes:
Faixa Limitada de Alimentos Preferidos
Um dos sintomas mais notáveis é uma faixa muito restrita de alimentos aceitáveis. Estes “alimentos seguros” costumam ser específicos em textura, cor ou marca. Qualquer desvio desses pode levar à recusa em comer.
Angústia Emocional
A simples sugestão ou apresentação de alimentos não preferidos pode gerar fortes reações emocionais como ansiedade, repulsa ou medo. Essas respostas emocionais são desproporcionais à situação e podem tornar as refeições incrivelmente estressantes tanto para a criança quanto para os pais.
Sintomas Físicos
Em casos graves, o Distúrbio Alimentar Seletivo pode levar a sintomas físicos significativos devido a deficiências nutricionais. Isso pode incluir crescimento atrofiado, puberdade atrasada e perda de peso. Além disso, a falta de nutrientes essenciais pode levar a fadiga geral, falta de concentração e função imunológica comprometida.
Implicações Sociais
Crianças com Distúrbio Alimentar Seletivo muitas vezes enfrentam dificuldades em ambientes sociais onde a comida está envolvida. Isso pode incluir evitar festas de aniversário, almoços escolares ou encontros familiares para escapar da ansiedade ou constrangimento ligados aos seus hábitos alimentares.
Resistência a Experimentar Novos Alimentos
Embora a maioria das crianças seja hesitante em experimentar novos alimentos, aquelas com Distúrbio Alimentar Seletivo mostram uma resistência severa ou uma recusa absoluta em experimentar novos alimentos. Em alguns casos, eles podem até mesmo remover o alimento do prato para evitar qualquer ingestão acidental.
Rituais Alimentares
Algumas crianças com Distúrbio Alimentar Seletivo se envolvem em rituais alimentares, como a necessidade de os alimentos serem preparados de uma forma específica ou exigir que os alimentos sejam separados no prato. Esses rituais podem ser elaborados e demorados, tornando a preparação das refeições um desafio.
Queixas Gastrointestinais
Embora nem sempre estejam presentes, algumas crianças com Distúrbio Alimentar Seletivo relatam sintomas gastrointestinais como dores de estômago ou prisão de ventre. Esses sintomas geralmente estão relacionados à faixa limitada de alimentos que consomem, mas também podem ser exacerbados pela ansiedade em torno da alimentação.
Limitações Funcionais
Em casos extremos, o Distúrbio Alimentar Seletivo pode levar a limitações funcionais significativas. A criança pode recusar-se a comer fora de casa, afetando o desempenho escolar e interações sociais.
Dicas para Pais
Cuidar dos filhos não é uma tarefa fácil e muitas vezes quando as coisas não vão como esperávamos isso nos deixa frustrados. Mas entender nossos filhos e como lidar com eles em momentos difíceis é fundamental para criarmos um ambiente tranquilo para nós e para eles na hora da refeição. Para isso quero te dar algumas dicas simples de como você pode fazer para ajudar seu filho que está com o distúrbio alimentar seletivo.
Mantenha a Calma: Reagir com frustração apenas agrava a ansiedade da criança em relação à comida. Seja paciente e compreensivo.
Eduque-se: Entenda que isso não é apenas teimosia. Aprofunde-se em recursos e comunidades dedicadas a entender o distúrbio. Assim você vai aprender mais sobre seu filho e como ajuda-lo da melhor maneira possível.
Introduza Alimentos Lentamente: Sobrecarregar uma criança com alimentos desconhecidos ou ‘assustadores’ pode ser esmagador. Em vez disso, introduza novos alimentos lentamente e incentive, mas não force, a experimentá-los.
Torne a Hora da Refeição em um momento agradável: Evite lutas pelo poder. Garanta que a hora da refeição seja uma experiência positiva e livre de estresse, mesmo que a criança coma alimentos limitados.
Busque Apoio: Participe de comunidades online ou grupos de apoio locais de pais lidando com problemas semelhantes. Compartilhar experiências pode ser extremamente benéfico.
Opções de Tratamento
Reconhecer o Distúrbio alimentar seletivo é o primeiro passo. A partir daí, vários tratamentos podem ajudar, por exemplo:
Terapia: A terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ser especialmente benéfica para crianças com Distúrbio alimentar seletivo. Este tratamento foca em abordar e mudar padrões negativos de pensamento e comportamento em relação à comida.
Aconselhamento Nutricional: Um nutricionista pode ajudar a garantir que seu filho receba os nutrientes, vitaminas e minerais necessários, apesar de sua alimentação restritiva.
Profissionais que podem te ajudar
Se você acredita que seu filho tem Distúrbio alimentar seletivo, procurar orientação profissional é muito importante. Alguns especialistas para consultar incluem:
Pediatra: Sempre comece com o médico de cuidados primários de seu filho. Eles podem oferecer orientação sobre os próximos passos e encaminhamentos.
Psicólogo ou Psiquiatra Infantil: Especialmente aqueles que se especializam em transtornos alimentares ou transtornos de ansiedade.
Nutricionista: Eles podem fornecer orientação para garantir que as necessidades nutricionais do seu filho sejam atendidas, mesmo com as restrições que ele tem.
Entender e abordar o Distúrbio Alimentar Seletivo é essencial para o bem-estar das crianças. Reconheça os sinais, busque conhecimento e sempre procure a ajuda certa para guiar seu filho em direção a um relacionamento mais saudável com a comida. Lembre-se, você não não precisa estar sozinha/o nessa caminhada, com as pessoas certas é possível fazer grandes mudanças que vão beneficiar muito a saúde e bem estar do seu filho.
Conhecer melhor seu filho e entender mais o que está acontecendo com ele é fundamental para que toda a família possa passar por situações mais desafiadoras com mais tranquilidade. Para isso é essencial conhecer e buscar ajuda sempre que for necessário para que você possa agir da melhor forma possível para que as refeições possam ser um momento agradável em família e não um momentos de stress. Por isso é sempre importante consultar profissionais de saúde qualificados para um diagnóstico abrangente e um plano de tratamento personalizado. Como em qualquer transtorno, quanto mais cedo for detectado, geralmente melhor é o resultado.
Referências:
Seletividade Infantil: https://atividadeparaeducacaoespecial.com/wp-content/uploads/2014/12/alimenta%C3%A7%C3%A3o-seletiva.pdf
NEDA – https://www.nationaleatingdisorders.org/
Transtorno evitativo:
https://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0717-92272020000200171